terça-feira, 18 de junho de 2013

O jogo agora é outro


Que orgulho destas novas gerações ! Ao mostrar para o mundo, sem os velhos chavões, que somos muito mais do que um lugar de belas praias, bundas desnudas, cerveja, carnaval e futebol (em que, aliás, já fomos os tais) deixaram claro que não estão para brincadeira. E que se dane a Copa das Confederações ! Da FIFA e não do Brasil, a propósito. O jogo da hora é outro. Perfect timing. Nada mais constrangedor para vetustos dirigentes (quando não de idade, de espírito) do que as lições de cidadania deixada pelos mais jovens, pelas ruas do país.

Existem desvios ? É lógico. Em movimentos espontâneos e descentralizados, não há como evitar os excessos e muito menos as exceções. Pontos fora da curva existem de toda sorte, em qualquer contexto. Mas, impressiona a capacidade das enormes multidões reunidas em não perder o foco da sua verdadeira demanda: o clamor cívico, pacífico, democrático e legítimo por mudanças. Sobretudo na lógica de representatividade institucional. O problema vai além do local e ultrapassa as fronteiras de Estados, das mais variadas inclinações.

Chegou a vez do Brasil ? Tudo leva a crer que sim. Uma espécie de sopro da esperança incontida, misturado com o destemor típico da juventude parece conquistar, de pouco em pouco, os corações e mentes de uma população inteira. Nem mesmo as tentativas de deslegitimar as ações, em grande medida pelos atores políticos, acompanhados em uníssono por uma mídia hegemônica, oportunista e sorrateira surtiram efeito. Para muitos, o sentimento é o de um despertar de uma letargia dominante. Perceber que, ao redor, as distensões sociais são por demais evidentes, para continuarem a ser ignoradas.

O mais fascinante de tudo é que não existem lideranças aparentes. O movimento traduz um exercício político, mas apartidário. Articulado nas redes, mas consumado nas ruas. Carente de uma bandeira definida, porém, expressando insatisfações latentes. Processa-se à margem dos poderes constituídos, no entanto -sem deixar de apontar para suas contradições- reconhece sua legitimidade institucional e indispensabilidade. Tem mais corpo do que voz, muito embora representados por massas disformes e palavras de ordem potentes e articuladas. Comporta pouco ineditismo, mas ao mesmo tempo é atualíssimo, já que sintonizado com as vanguardas mais atuantes de Nova York ao Cairo. É singular, sem deixar de ser plural.

Não há dúvida de que estamos diante de momento especial. Talvez, menos importante agora seja projetar para onde esta onda poderá nos levar, enquanto nação. A marca indelével que deverá ficar, para as novas gerações, é esta consciência cidadã, que nos energiza e impulsiona, por revelar o quanto é possível fazermos, quando nos unimos verdadeiramente. O caminho é longo e os obstáculos são inevitáveis. Por sorte, já ali, bem pertinho, temos uma boa e oportuna “parada”para nos reencontrarmos: 2014, não o ano da Copa, mas das eleições. Nas urnas, boto fé, nessa gente bronzeada (ou não), mostrar seu valor...