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- Publicado: 13 de maio de 2015
Publicado em: tanojogo.com/colunistas
O modelo esportivo brasileiro tem passado por intensas transformações nas últimas décadas. Resultado de uma nova percepção por parte do Estado, o esporte passou à condição de relevante ferramenta estratégia, para a promoção e desenvolvimento dos interesses nacionais.
O modelo esportivo brasileiro tem passado por intensas transformações nas últimas décadas. Resultado de uma nova percepção por parte do Estado, o esporte passou à condição de relevante ferramenta estratégia, para a promoção e desenvolvimento dos interesses nacionais.
No plano externo, o aspecto mais importante é a atração dos mega eventos, iniciados com a realização dos Jogos Pan Americanos, em 2007 e que culminarão com a primeira edição dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 na América do Sul (com direito a uma Copa do Mundo de futebol, no caminho).
Internamente, as mudanças são ainda mais profundas: modernização do sistema jurídico desportivo, reestruturação do aparato administrativo público e remodelagem dos quadros (recursos humanos) e equipamentos esportivos, com um forte estímulo a profissionalização de toda a estrutura.
Tantas e tão intensas novidades, porém, não são suficientes para alterar algo essencial (e que permanecerá, mesmo após todos os esforços empreendidos até aqui): a tradição da formação esportiva brasileira, profundamente ligada às entidades associativas privadas e, por conseguinte, dependente dos clubes.
Diferente do modelo norte-americano, marcado pelo forte incentivo público e decisiva participação da escola na iniciação e formação dos jovens valores esportivos, o Brasil organizou-se em torno do pilar privatista (baseado no clube e não na escola), suscetível às oscilações do mercado e, portanto, subordinada as demandas internas, próprias dos agentes particulares.
Enquanto na América do Norte a inserção do jovem no ambiente esportivo está vinculada a um projeto de nação, orientada por critérios universalistas e democráticos (que passam pela formação para a cidadania, promoção da saúde e estímulo ao bem estar, sempre associados ao ideal da performance), no Brasil, a lógica é outra. Ausência de planejamento de longo prazo, combinado a uma severa precarização da infra-estrutura técnica, levam a descontinuidades e rupturas graves, cujas consequências mais visíveis são o desperdício dos poucos valores formados e o desestímulo às praticas esportiva, nos seus níveis mais amplos (da educação ao lazer, com reflexos para o rendimento).
Para evoluir verdadeiramente, o paradigma do esporte no Brasil precisa ser repensado em suas bases mais profundas. Começando por um novo modelo de ordem esportiva de longo prazo, conduzido como política de Estado (e, portanto, desvinculado de projetos de governo). Um esforço que deve ser debatido, planejado e implementado com a seriedade e o continuísmo que uma ação desta envergadura exige. Afinal, os resultados só serão colhidos em gerações futuras, pois implicam uma mudança cultural significativa, a ser alimentada por incentivos fiscais, para a associação do capital privado.
Em certa medida este processo de mudanças já começou. As decisões alinhavadas pelos poderes públicos, nas últimas duas décadas, apontam para um caminho. Mas, o que já está em curso precisa ser intensificado. A década de ouro do esporte brasileiro (representada principalmente pelos eventos internacionais aqui sediados) corre o risco de ser desperdiçada, se for pensada como a maior conquista derivada dos esforços empreendidos até então.
A verdadeira transformação só irá acontecer se alcançar as massas, em um processo permanente de inclusão social pela via do esporte. É da quantidade que se extrai a qualidade. E pela massificação da prática esportiva, que se pode alcançar excelência. Este é legado que transcende as melhorias materiais e as conquistas no plano esportivo. A maior vitória do esporte brasileiro seria a afirmação de uma cultura esportiva orientada para uma melhoria da qualidade de vida, com mais oportunidades para todos e exercício pleno da cidadania.