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- Publicado: 10 de junho de 2015
Publicado em: tanojogo.com/colunistas
As vésperas de sediar a primeira edição dos Jogos Olímpicos
na América do Sul, o Brasil continua a dever ao esporte universitário nacional.
Berço de inovações, revelação e aperfeiçoamento de jovens talentos, o esporte
cambaleia em muitas universidades do país.
O quadro não é novo: as disputas entre universitários
remonta a transição dos séculos XIX e XX, por iniciativa dos próprios
estudantes, que se reuniam para praticar as modalidades. Em um primeiro
momento, dentro das próprias instituições de ensino e depois, entre as mesmas.
O caráter institucional só veio em 1941, com o decreto-lei
3617, que instituiu a CBDU (Confederação Brasileira do Desporto Universitário)
e criou as Associações Atléticas Acadêmicas, ligadas aos Centros Acadêmicos –estabelecendo,
ainda, que as instituições de ensino dispusessem de espaços e equipamentos
esportivos para as práticas.
É também por força deste mesmo diploma legal que os JUB´s
(Jogos Universitários Brasileiros) passam a ser promovidos. A competição
atravessou as décadas experimentando fortes oscilações, em que os cancelamentos
e as desistências eram frequentes. Mesmo com a realização da Universíada de
1963, em Porto Alegre –a maior competição internacional para universitários,
organizada pela Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU)- os problemas
foram sempre crescentes para o esporte universitário brasileiro.
As divisões internas na CBDU, combinada a omissão das
esferas públicas em conduzir o desenvolvimento do esporte universitário no
Brasil (delegando aos universitários a missão de levar adiante as disputas
esportivas nas IES) levou a uma estagnação do modelo. Nem as mudanças nas leis
(6.215/75, 8.672/93 “Lei Zico” e 9.615/98 “Lei Pelé”), que conferiram mais
autonomia e liberdade de organização, contribuíram para mudanças na estrutura.
Os anos 90 foram marcados pelo uso do esporte como
ferramenta promocional, por parte de algumas universidades, que patrocinavam
alunos-atletas e equipes formadas por atletas (sem necessariamente possuírem
vínculo com as instituições de ensino), apenas para obterem visibilidade no
mercado, hipoteticamente, atraindo mais alunos para seus quadros. O modelo não
teve a acolhida necessária, porque a conjuntura externa lhe era desfavorável.
Na entrada de 2000, com a criação do inédito ministério do
Esporte -e uma pasta dedicada ao esporte universitário-, o paradigma do esporte
universitário brasileiro começou a ser repensado. A estratégia do governo foi
de intervenção nas entidades nacionais e estaduais, com o fim de reorganizar o
esporte universitário. A vinculação da CBDU ao COB permitiu ao poder federal
estabelecer um modelo de financiamento público (com verbas oriundas da Lei
Agnelo/Piva) sem impedir a captação de receitas da iniciativa privada.
Integrado ao novo modelo de gestão do esporte brasileiro
(baseado no tripé: rendimento, educação e lazer), o Ministério do Esporte
passou também a supervisionar permanentemente a execução do projeto de
organização dos Jogos Universitários, bem como estimular a participação das
instituições de ensino superior públicas e privadas.
Mas, o que poderia significar avanço, também se
constitui em novo desafio: embora crescente, a participação dos estudantes de
ensino superior nas disputas organizadas (em torno de 4000 participantes, entre
comitê organizador, dirigentes, membros da comissão técnica e esportistas
estiveram presentes na última edição, de 2014, realizada em Aracajú), não se
traduz em massificação da prática esportiva, no contexto das próprias IES.
Muitas delas, com equipamentos sucateados, deficiência na infraestrutura
técnica e quadros inadequados, pouco contribuem para a difusão do hábito do
esporte, entre os estudantes do ensino superior.
Na contramão das principais potencias esportivas
do planeta, as diretrizes do esporte universitário brasileiro priorizam o topo
da pirâmide, sem dar a devida atenção à base. Naturalmente, o processo de
transformação é longo e os progressos exigem continuidade. A dúvida é saber se
as constantes incertezas que cercam a política do esporte brasileiro
interferirão nas poucas conquistas alcançadas. A julgar pelo recente fiasco da
cidade de Brasília, que, depois de confirmada como sede, renunciou à
candidatura para sediar a 30ª Universíada de Verão, em 2019, o futuro é de
preocupações...