quinta-feira, 11 de junho de 2015

O dilema do esporte universitário brasileiro


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Publicado em: tanojogo.com/colunistas


As vésperas de sediar a primeira edição dos Jogos Olímpicos na América do Sul, o Brasil continua a dever ao esporte universitário nacional. Berço de inovações, revelação e aperfeiçoamento de jovens talentos, o esporte cambaleia em muitas universidades do país.

O quadro não é novo: as disputas entre universitários remonta a transição dos séculos XIX e XX, por iniciativa dos próprios estudantes, que se reuniam para praticar as modalidades. Em um primeiro momento, dentro das próprias instituições de ensino e depois, entre as mesmas.
O caráter institucional só veio em 1941, com o decreto-lei 3617, que instituiu a CBDU (Confederação Brasileira do Desporto Universitário) e criou as Associações Atléticas Acadêmicas, ligadas aos Centros Acadêmicos –estabelecendo, ainda, que as instituições de ensino dispusessem de espaços e equipamentos esportivos para as práticas.

É também por força deste mesmo diploma legal que os JUB´s (Jogos Universitários Brasileiros) passam a ser promovidos. A competição atravessou as décadas experimentando fortes oscilações, em que os cancelamentos e as desistências eram frequentes. Mesmo com a realização da Universíada de 1963, em Porto Alegre –a maior competição internacional para universitários, organizada pela Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU)- os problemas foram sempre crescentes para o esporte universitário brasileiro.

As divisões internas na CBDU, combinada a omissão das esferas públicas em conduzir o desenvolvimento do esporte universitário no Brasil (delegando aos universitários a missão de levar adiante as disputas esportivas nas IES) levou a uma estagnação do modelo. Nem as mudanças nas leis (6.215/75, 8.672/93 “Lei Zico” e 9.615/98 “Lei Pelé”), que conferiram mais autonomia e liberdade de organização, contribuíram para mudanças na estrutura.

Os anos 90 foram marcados pelo uso do esporte como ferramenta promocional, por parte de algumas universidades, que patrocinavam alunos-atletas e equipes formadas por atletas (sem necessariamente possuírem vínculo com as instituições de ensino), apenas para obterem visibilidade no mercado, hipoteticamente, atraindo mais alunos para seus quadros. O modelo não teve a acolhida necessária, porque a conjuntura externa lhe era desfavorável.

Na entrada de 2000, com a criação do inédito ministério do Esporte -e uma pasta dedicada ao esporte universitário-, o paradigma do esporte universitário brasileiro começou a ser repensado. A estratégia do governo foi de intervenção nas entidades nacionais e estaduais, com o fim de reorganizar o esporte universitário. A vinculação da CBDU ao COB permitiu ao poder federal estabelecer um modelo de financiamento público (com verbas oriundas da Lei Agnelo/Piva) sem impedir a captação de receitas da iniciativa privada.

Integrado ao novo modelo de gestão do esporte brasileiro (baseado no tripé: rendimento, educação e lazer), o Ministério do Esporte passou também a supervisionar permanentemente a execução do projeto de organização dos Jogos Universitários, bem como estimular a participação das instituições de ensino superior públicas e privadas.

Mas, o que poderia significar avanço, também se constitui em novo desafio: embora crescente, a participação dos estudantes de ensino superior nas disputas organizadas (em torno de 4000 participantes, entre comitê organizador, dirigentes, membros da comissão técnica e esportistas estiveram presentes na última edição, de 2014, realizada em Aracajú), não se traduz em massificação da prática esportiva, no contexto das próprias IES. Muitas delas, com equipamentos sucateados, deficiência na infraestrutura técnica e quadros inadequados, pouco contribuem para a difusão do hábito do esporte, entre os estudantes do ensino superior.

Na contramão das principais potencias esportivas do planeta, as diretrizes do esporte universitário brasileiro priorizam o topo da pirâmide, sem dar a devida atenção à base. Naturalmente, o processo de transformação é longo e os progressos exigem continuidade. A dúvida é saber se as constantes incertezas que cercam a política do esporte brasileiro interferirão nas poucas conquistas alcançadas. A julgar pelo recente fiasco da cidade de Brasília, que, depois de confirmada como sede, renunciou à candidatura para sediar a 30ª Universíada de Verão, em 2019, o futuro é de preocupações...