Que Neymar é craque, não há dúvida. O problema é saber o quão
longe o menino da Vila poderá chegar no olimpo do esporte. Quatro anos após sua
arrebatadora aparição para o mundo da bola, o garoto franzino que encantava a
todos com seus dribles, gols e jogadas sensacionais transformou-se em homem (de
corpo e mente). E como adulto, tomou a decisão mais aguardada pelo futebol
brasileiro nos últimos anos: onde desfilará o seu majestoso futebol.
Decisão tomada, impõe-se, ato contínuo, nova pergunta: o
quanto isso irá afetá-lo, tecnicamente, dentro dos gramados ?
A opção pelo Barcelona não traz novidades. Insinuações sobre
a existência de um acordo prévio, costurado na ponte aérea Catalunha x Baixada
Santista, são recorrentes. Há meses. Já o impacto que a mudança trará para a
carreira do talentoso atacante continua dividindo opiniões. O coro dos que ansiavam
ver Neymar enfrentando os engenhosos esquemas táticos europeus e a força dos adversários
do velho continente venceu. Em parte, o jovem moicano rendeu-se as evidências do
declínio técnico dos gramados brasileiros, que já afetava seu vistoso futebol.
Na ótica dos otimistas, a península Ibérica oferecerá
horizontes mais promissores para a evolução do talento brasileiro. Colocará à
prova seu vasto repertório de jogadas, diante de sistemas de marcação mais
rígidos, movimentações táticas dinâmicas e jogo mais coletivo. Tudo aquilo que
já não se vê mais nos velhos estádios brazucas. O mergulho na cultura
futebolística dos centros europeus, em suma, lapidará a joia brasileira,
tornando-o um híbrido de talento criativo e disciplina tática, de que tanto
padecem nossos, outrora, craques nacionais.
O outro lado destas leituras não é tão animador. Defensores
da permanência do onze santista projetam um desafio maior do que os seus poucos
anos de vida seriam capazes de suportar. Estrela absoluta de um futebol carente de
referências, Neymar só não fazia chover (ainda que, ultimamente, mais fora do
que dentro dos gramados, é bem verdade). Gozando do status de tudo-pode, por
seus feitos nos campos de futebol, projetava-se em paralelo como celebridade
indiscutível do showbiz, alavancado por uma meteórica carreira comercial. Dono
da bola e da grana, era praticamente intocável. Dorival, ex-treinador do Santos
que o diga.
Na Espanha encontrará um clube grandioso, com elenco mais do
que estrelar. Será mais um na companhia e, naturalmente, sem a mesma projeção
técnica e comercial que o distinguia dos reles mortais, no Brasil. Conviverá,
enfim, em terra de gigantes. Precisará aprender a olhar sob nova perspectiva e
adaptar-se rapidamente a um mundo em outras dimensões. Tudo isso aumentado pelas
expectativas internacionais em relação a ser o mais novo astro brasileiro e do clamor cívico de
uma nação inteira, as vésperas de uma Copa do Mundo tão almejada.
Neymar não terá espaço para improviso. Precisará superar-se
rápido. Haverá de transitar de um futebol que perdeu o vigor para outro que se
encontra na plenitude de sua exuberância. Os sacrifícios serão inevitáveis. Encarar
a seriedade e o profissionalismo esportivo das terras de além mar implicará em
abrir mão daquilo que tanto seduz o supercraque brasileiro na sua vida fora dos
campos. Diante da Esfinge que o futuro lhe reserva, terá que decifrar os
enigmas do maior desafio na sua trajetória no esporte. Ou então, deixar-se
devorar. Quem sabe, por si mesmo ?
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