quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Coisas do Botafogo

E Vitinho decidiu sair. Que lástima ! O jovem atacante botafoguense, destaque da equipe e, para muitos, do próprio Campeonato Brasileiro, até aqui, resolveu respirar os ares gélidos das estepes russas. Aparentemente, uma decisão pensada e repensada. Sem volta.

O abalo foi inevitável ! A terra tremeu e o mar se abriu, nas entranhas da estrela solitária. A torcida não poderia mesmo, deixar barato, uma “solução” tão cara. Afinal, o clube paga salários em dia. Não tem receitas bloqueadas. Tem estádio próprio. E fatura adoidado.

Ora, façam-me o favor ! E antes que me xinguem: o Botafogo é, de longe, no Rio de Janeiro, o clube de futebol melhor estruturado. Tem quadros competentes, sistema de gestão moderno e uma visão arejada do esporte. Mas, está muito longe de ser um modelo de excelência.

O episódio Vitinho encerra uma sucessão de equívocos que, em um ambiente de profissionalismo, não são aceitáveis. Quando falta planejamento, as organizações esportivas tornam-se empreendimentos extremamente vulneráveis, em um mercado tão competitivo.

De promessas a realidade atletas são ativos valiosos (apesar da crueza da expressão), que precisam ser melhor cuidados. Vitinho não é o primeiro jogador a sair no meio da temporada, deixando sua equipe órfã de talento. Mas, no Botafogo, já é o terceiro titular a pular do barco.

Tem alguma coisa errada aí. Não dá para jogar tudo na conta do atleta ou de seus representantes. E muito menos atribuir aos infortúnios do destino (ou do passado) as mazelas que se abatem sobre o presente alvinegro. Raios caem mais de uma vez no mesmo lugar ?

Logicamente, o impacto financeiro causado pela interdição do Engenhão é um golpe duro de suportar. Mas, é preciso lembrar que outras equipes não têm estádios próprios e conseguem equilibrar seus orçamentos, minimizando a ausência desta importante fonte de receitas.

O Botafogo fez uma aposta ousada em Seedorf. Os resultados técnicos são indiscutíveis. Mas, comercialmente, a presença do astro holandês ainda não parece ter sido capaz de alavancar as receitas de marketing pretendidas. O clube detém a sexta maior cota de patrocínio master do futebol brasileiro (R$ 16 milhões/ano), mas diversifica pouco suas ações em outras frentes.

Recebe, ainda, pelos direitos de transmissão na faixa dos R$ 70 milhões, o que o coloca entre os 12 clubes do país que mais faturam com a cessão das imagens de seus jogos, para a TV. Movimenta também outras fontes de receitas marginais, que aproximam o clube de um faturamento na casa dos três dígitos anuais. Algo em torno de R$ 8 milhões mensais.

O que os números não revelam é o enorme abismo entre o que entra e o que sai. O endividamento público cresce sem parar (atualmente, na ordem dos R$ 400 milhões) e muito pouco (ou nada) se faz a respeito. Gastar menos do que se recebe é uma conta que qualquer dona de casa sabe fazer. Dirigentes esportivos parecem ainda estar no jardim de infância desta lição...

Reconhecer fraquezas e encontrar mecanismos que transformem ameaças em oportunidades não é o forte dos clubes de futebol. Mais fácil é transformar patrimônio de valor intangível em crédito oportunista e barato. E depois colocar a conta no bolso de um garoto recém-saído do Complexo do Alemão, com tudo a ganhar e nada a perder, numa aventura gelada, por paisagens distantes...

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Entrevista Isto é Dinheiro



ECONOMIA
ONLINE | FUTEBOL | 15.AGO.13 - 06:50

Um galês de 100 milhões de euros

A possível ida de Gareth Bale para o Real Madrid pode inaugurar a entrada das transferências do futebol na casa dos negócios de nove dígitos

Por André JANKAVSKI
Capital do País de Gales, nação anexada ao Reino Unido, Cardiff recebeu na última quarta-feira (14) o amistoso entre o país local e a vizinha Irlanda. No campo, as duas seleções não saíram do zero. As atenções do mundo do futebol, no entanto, se concentraram na estrela dos galeses, que acompanhou a partida das tribunas: Gareth Bale. O atleta de 24 anos que joga no inglês Tottenham Hotspur, desde 2007, é protagonista da possível maior transação de um jogador de futebol da história. Seu valor? O Real Madrid pode pagar cerca de 100 milhões de euros.

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Gareth Bale, meio campo do Tottenham, está envolvido na que pode ser a maior transação do futebol
 
O recorde até agora pertence ao português e super estrela Cristiano Ronaldo. Em 2009, o mesmo time espanhol desembolsou 96 milhões de euros para contar com os serviços do seu atual camisa sete, então jogador do Manchester United. A estratégia deu resultado e Cristiano já marcou mais de duzentos gols com a camisa merengue, além de trazer números expressivos para o clube - só a sua apresentação oficial como jogador do Real atraiu mais de 85 mil pessoas. "É bom ressaltar que nem sempre é um investimento que terá um retorno positivo", diz Luiz Léo, professor de marketing esportivo da PUC-RJ. "O Kaká, por exemplo, custou 65 milhões de euros e até agora não engrenou no clube de Madrid."
 
O Real Madrid, responsável por três das cinco maiores transações da história do futebol, tem um lado bem peculiar: o clube não visa lucro. Juntamente com o seu arqui-rival Barcelona, o Athletic Bilbao e o Osasuna, a equipe merengue se encaixa no modelo associativo, pagando assim menos impostos ao governo espanhol. 
 
Graças aos altos valores movimentados, principalmente pela equipe de Madrid e a catalã, a Comissão Europeia pressiona para que todos se tornem empresas e passem a ter mais responsabilidades com o fisco. A ação, entretanto, pode dar ainda mais força para o Barcelona e o Real, dois dos poucos clubes no mundo que possuem faturamento maior do que as dívidas. “Se optarem por um IPO, por exemplo, é possível que eles sejam ainda mais dominantes nas contratações”, afirma Amir Somoggi, especialista em gestão esportiva.
 
 
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Das cinco transferências mais caras do esporte, o Real Madrid fez três: Cristiano Ronaldo, Zidane e Kaká
 
Além dos altos valores da negociação envolvendo Gareth Bale, chama a atenção o galês não ter conquistas individuais fora da Inglaterra. Apesar de ter sido considerado o melhor jogador de 2012 da liga inglesa pelos próprios jogadores das equipes participantes, o meio-campista não figurou sequer entre os 23 destaques do ano passado da Fifa. Cristiano Ronaldo, na época de sua transação, tinha sido eleito o melhor do mundo. "A pouca idade, a qualidade técnica e o potencial são fatos positivos e indiscutíveis, mas 100 milhões de euros é um exagero", afirma Léo.
 
A contratação de Bale, se concluída, pode inflacionar ainda mais as transações. A entrada de sheiks árabes e bilionários russos no futebol está transformando contratações caras em algo rotineiro: só de agosto do ano passado até agora, o brasileiro Hulk, o colombiano Radamel Falcão e o uruguaio Edinson Cavani se envolveram em transações acima de 60 milhões de euros. “Estamos passando por uma crise financeira, especialmente a Europa, e essa movimentação em algum momento se tornará insustentável”, diz Luiz Léo. “Isso não é saudável”, afirma Somoggi. “A UEFA (União das Federações Europeias de Futebol) está desesperada e correndo para tentar solucionar esse desequilíbrio absurdo.”