E Vitinho decidiu sair. Que lástima ! O jovem atacante
botafoguense, destaque da equipe e, para muitos, do próprio Campeonato
Brasileiro, até aqui, resolveu respirar os ares gélidos das estepes russas. Aparentemente,
uma decisão pensada e repensada. Sem volta.
O abalo foi inevitável ! A terra tremeu e o mar se abriu, nas entranhas da estrela solitária. A torcida não poderia mesmo, deixar barato, uma “solução” tão
cara. Afinal, o clube paga salários em dia. Não tem receitas bloqueadas. Tem
estádio próprio. E fatura adoidado.
Ora, façam-me o favor ! E antes que me xinguem: o Botafogo é,
de longe, no Rio de Janeiro, o clube de futebol melhor estruturado. Tem quadros
competentes, sistema de gestão moderno e uma visão arejada do esporte. Mas,
está muito longe de ser um modelo de excelência.
O episódio Vitinho encerra uma sucessão de equívocos que, em
um ambiente de profissionalismo, não são aceitáveis. Quando falta planejamento,
as organizações esportivas tornam-se empreendimentos extremamente vulneráveis,
em um mercado tão competitivo.
De promessas a realidade atletas são ativos valiosos (apesar
da crueza da expressão), que precisam ser melhor cuidados. Vitinho não é o
primeiro jogador a sair no meio da temporada, deixando sua equipe órfã de
talento. Mas, no Botafogo, já é o terceiro titular a pular do barco.
Tem alguma coisa errada aí. Não dá para jogar tudo na conta
do atleta ou de seus representantes. E muito menos atribuir aos infortúnios do
destino (ou do passado) as mazelas que se abatem sobre o presente alvinegro. Raios
caem mais de uma vez no mesmo lugar ?
Logicamente, o impacto financeiro causado pela interdição do
Engenhão é um golpe duro de suportar. Mas, é preciso lembrar que outras equipes
não têm estádios próprios e conseguem equilibrar seus orçamentos, minimizando a
ausência desta importante fonte de receitas.
O Botafogo fez uma aposta ousada em Seedorf. Os resultados
técnicos são indiscutíveis. Mas, comercialmente, a presença do astro holandês ainda
não parece ter sido capaz de alavancar as receitas de marketing pretendidas. O
clube detém a sexta maior cota de patrocínio master do futebol brasileiro (R$ 16 milhões/ano), mas diversifica pouco
suas ações em outras frentes.
Recebe, ainda, pelos direitos de transmissão na faixa dos R$
70 milhões, o que o coloca entre os 12 clubes do país que mais faturam com a cessão
das imagens de seus jogos, para a TV. Movimenta também outras fontes de
receitas marginais, que aproximam o clube de um faturamento na casa dos três
dígitos anuais. Algo em torno de R$ 8 milhões mensais.
O que os números não revelam é o enorme abismo entre o que
entra e o que sai. O endividamento público cresce sem parar (atualmente, na
ordem dos R$ 400 milhões) e muito pouco (ou nada) se faz a respeito. Gastar menos do que se recebe é uma conta que qualquer dona de casa sabe fazer. Dirigentes
esportivos parecem ainda estar no jardim de infância desta lição...
Reconhecer fraquezas e encontrar mecanismos que transformem ameaças
em oportunidades não é o forte dos clubes de futebol. Mais fácil é transformar
patrimônio de valor intangível em crédito oportunista e barato. E depois
colocar a conta no bolso de um garoto recém-saído do Complexo do Alemão, com
tudo a ganhar e nada a perder, numa aventura gelada, por paisagens distantes...
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