sexta-feira, 12 de julho de 2019

A lógica Baú da Felicidade da "nova" previdência




Que Sílvio Santos é um gênio, não resta dúvidas. Saiu do nada, vendendo suas quinquilharias nos trens dos subúrbios cariocas até se tornar dono de concessão de emissora de TV - arranjo gentil obtido junto aos ditadores de plantão, durante o regime golpista militar dos anos 80.
O propósito da concessão era criar um “contraponto” ao sistema monopólico da família Marinho, detentora de quase tudo em termos de comunicação, no Brasil. Silvio prosperou como empresário de comunicação, mas seu dom para os negócios o levou ainda mais longe.
Das atividades ligadas às mídias, migrou para os segmentos financeiro e comercial, concebendo um de seus produtos de maior sucesso: o Baú da Felicidade. Misto de consórcio com carnê de mercadorias, o “patrão” provou ter o toque de Midas – por baixo da alma de camelô.
A magia do "produto" esconde uma perversidade: adimplente, o comprador do carnê concorre a prêmios, sorteados durante a programação do SBT. Não contemplado pelos sorteios, pode trocar o saldo acumulado do carnê em produtos nas lojas do Baú. Onde mora o diabo desta conta ? Na alta taxa de inadimplência dos “consumidores”. Uma vez em débito com o carnê, o infeliz “comprador” da Felicidade não pode concorrer à sorteios nem trocar saldo por produtos.
Quem ganha com isso ? A resposta mais óbvia seria SS. Mas, no atual contexto de Brasil, que vive às voltas com uma "reforma" da previdência que tira dos pobres sem tocar nos privilégios dos mais favorecidos, algum paralelismo com o “Peru que Fala” da TV é inevitável.
A "nova" previdência, alardeada como solução para o “Brasil do futuro” exige dos contribuintes pesados sacrifícios, sem uma perspectiva de retorno plausível. Em um país que oferece uma expectativa de vida de 76 anos (IBGE), o trabalhador precisará alongar sua vida útil até o limite extremo de suas forças, quando, por uma incongruência perversa, já não “servirá” mais.
Afinal, a realidade do mercado é bem diferente do mundo idílico dos mandatários do projeto de "reforma" previdenciária. Quanto mais “velho”, mais chances do contribuinte ser eliminado da ativa, bem antes de conseguir completar os critérios mínimos de contribuição exigidos pela "reforma".
É a tal lógica do Baú às avessas: uma infelicidade só ! E justo para aqueles que mais precisam de dignidade para enfrentar um final de vida com algum conforto, no atendimento das necessidades que a idade impõe a quem consegue vencer a barreira do tempo - neste mundo hostil e implacável.
Pela lógica do “Baú”, o contribuinte precisará pagar longos e penosos anos à “nova” previdência, na expectativa de assegurar um final de vida minimamente decente. Mas, na prática, a própria vida (diga-se, o mercado) se encarregará de gerar os inadimplentes – que não levarão nada daquilo que acumularam ao longo de anos; e muito menos deixarão alguma coisa para seus descendentes.
Naturalmente, esta "conta" ficará para a Viúva - aquela Velha e Gorda Senhora, que nunca cansa de cobrir de benesses, vantagens e acúmulos aqueles que já tanto tem...
Conta sórdida. Mecanismo (este sim !), escuso. E o pato desta história ? Ah, está contando os dias para assumir seu posto no STF. Com salário, benefícios e aposentadoria de causar inveja a toda essa gente - inclusive, aqueles que vão morrer de fome...

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