Para o brasileiro, novela é quase religião. Por mais
recorrentes que sejam as tramas, difícil resistir às cenas dos próximos
capítulos, invariavelmente recheadas de mistérios, suspenses e situações mirabolantes - daquelas que só as mentes mais criativas são capazes de elaborar. Pois não é que a
presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, está se revelando uma noveleira de
carteirinha ? Não contente com a programação das redes, decidiu inovar, gerando
as suas próprias histórias. Misto de criador e criatura, a mandatária
rubro-negra se vê as voltas com uma espécie de “Vale a pena ver de novo” para
lá de previsível, incompreensível e, porque não, deplorável.
As primeiras cenas chegaram a empolgar. Primeira e única mulher
a comandar o clube mais querido do Brasil, ex-atleta vitoriosa, foi eleita com
pompa e circunstância, derrotando a chapa do então favorito candidato da
situação -que conduziria o Flamengo à conquista do seu sexto campeonato
nacional, dias mais tarde. Assumiu em meio às desconfianças de um ambiente
hostil e preconceituoso (que não poucas vezes levaram-na às lágrimas). Confiante,
tal qual um Odorico de saias, comprometeu-se em sua posse a uma governança
vitoriosa, dentro e fora dos muros da Gávea. Cercou-se, para tanto, de um
elenco em que não faltaram celebridades (Zico, a estrela máxima das melhores tramas
rubro negras, dentre elas).
Como toda boa história, a sua foi alimentada por boas doses
de polêmicas e conflitos junto a uma platéia de mais de 30 milhões de
tele-torcedores. Na primeira temporada a frente da série “C.R.F”, no melhor
estilo “Janete Clair” dissimulou, despistou e criou mistérios. Fez surgir
personagens (alguns secundários e para lá de obscuros), quase sempre ocultando
mais do que relevando suas verdadeiras intenções. Manteve-se impassível mesmo
nos momentos mais agudos de seus suspenses particulares. Assistiu a realidade
adentrar a ficção, sem controle sobre seu casting,
rotineiramente envolvido em boletins policiais (ora expostos por brigas
passionais, ora fazendo apologias a traficantes e até mesmo investigados por assassinato -com tudo isso atravessando o seu enredo).Sem receio de arriscar novas fórmulas para
contar as mesmas histórias, jogou luzes em meros figurantes, que do alto de suas
capitanias hereditárias eliminaram protagonistas de tantas conquistas e glórias
com o manto sagrado.
Mas, como tramas também se fazem com celebrações, sucesso e
viradas, alguns resultados dentro do campo chegaram a empolgar. A conquista da
Taça São Paulo de Juniores de 2011 a fez até invocar o mantra de seus
oponentes mais ferrenhos: “Craque o Flamengo faz em casa”. Era o cenário
perfeito para o que viria em seguida, no início de sua segunda temporada. Artífice
das negociações com a poderosa Rede Globo, em uma renovação de contrato de
direitos de transmissão milionária, saiu às compras, bolsos cheios, atrás de um
star system para chamar de seu.
Decidida a inovar, importou um elenco estrelar, inaugurando uma nova era no
futebol brasileiro, marcada pelo repatriamento dos craques de outrora.
Estampou nas manchetes de todo mundo o título de seu novo
folhetim: “O melhor no maior do mundo”. Parecia uma receita infalível. Promessa
de novas emoções embaladas por personagens sempre em alta octanagem. No campo
técnico, deu certo por um tempo. A conquista do Carioca invicto em 2011 parecia
o avant première de um novo período
de glórias. Mas, a sina do vermelho e preto estava longe de um final feliz.
Da tumultuada passagem de Vanderlei Luxemburgo –que, sem
controle do time em campo, viu-se envolvido até com acusações de associação com
bicheiros, corrupção e lavagem de dinheiro (tudo, pasmem, minuciosamente detalhado
no... blog do Paulinho ! Mais novelesco impossível !!!!). - à saída bombástica
da maior contratação do futebol brasileiro de todos os tempos (não, não estou
me referindo ao Tufão), mas a Ronaldinho Gaúcho, tudo aconteceu.
Ou quase. Pois, como em uma boa novela, o melhor está sempre
reservado para o final.
Assim, como se não bastassem os micos históricos da parte da
delegação rubro-negra nas Olimpíadas de Londres (devidamente testemunhados pela
presidente mais pé quente da história desta “nação”), às desastradas tentativas
de contratação de meio mundo futebolístico (para, ao final, ressuscitar o velho
e já nada bom Adriano, às voltas com os eternos dilemas com seus próprios
miolos) a última do papagaio é que a presidente do clube carioca mais em
evidência do país, mantém um cabide de empregos no seu gabinete, na Câmara de
Vereadores da cidade que será sede das próximas edições dos jogos Olímpicos.
Para quem já “furou” esquema de segurança de presidente
americano para entregar-lhe o manto sagrado, que belo the end, hein, Dona Patrícia ?
Luiz Léo