terça-feira, 4 de setembro de 2012

A noveleira da Gávea


Para o brasileiro, novela é quase religião. Por mais recorrentes que sejam as tramas, difícil resistir às cenas dos próximos capítulos, invariavelmente recheadas de mistérios, suspenses e situações mirabolantes - daquelas que só as mentes mais criativas são capazes de elaborar. Pois não é que a presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, está se revelando uma noveleira de carteirinha ? Não contente com a programação das redes, decidiu inovar, gerando as suas próprias histórias. Misto de criador e criatura, a mandatária rubro-negra se vê as voltas com uma espécie de “Vale a pena ver de novo” para lá de previsível, incompreensível e, porque não, deplorável.

As primeiras cenas chegaram a empolgar. Primeira e única mulher a comandar o clube mais querido do Brasil, ex-atleta vitoriosa, foi eleita com pompa e circunstância, derrotando a chapa do então favorito candidato da situação -que conduziria o Flamengo à conquista do seu sexto campeonato nacional, dias mais tarde. Assumiu em meio às desconfianças de um ambiente hostil e preconceituoso (que não poucas vezes levaram-na às lágrimas). Confiante, tal qual um Odorico de saias, comprometeu-se em sua posse a uma governança vitoriosa, dentro e fora dos muros da Gávea. Cercou-se, para tanto, de um elenco em que não faltaram celebridades (Zico, a estrela máxima das melhores tramas rubro negras, dentre elas).

Como toda boa história, a sua foi alimentada por boas doses de polêmicas e conflitos junto a uma platéia de mais de 30 milhões de tele-torcedores. Na primeira temporada a frente da série “C.R.F”, no melhor estilo “Janete Clair” dissimulou, despistou e criou mistérios. Fez surgir personagens (alguns secundários e para lá de obscuros), quase sempre ocultando mais do que relevando suas verdadeiras intenções. Manteve-se impassível mesmo nos momentos mais agudos de seus suspenses particulares. Assistiu a realidade adentrar a ficção, sem controle sobre seu casting, rotineiramente envolvido em boletins policiais (ora expostos por brigas passionais, ora fazendo apologias a traficantes e até mesmo investigados por assassinato -com tudo isso atravessando o seu enredo).Sem receio de arriscar novas fórmulas para contar as mesmas histórias, jogou luzes em meros figurantes, que do alto de suas capitanias hereditárias eliminaram protagonistas de tantas conquistas e glórias com o manto sagrado.

Mas, como tramas também se fazem com celebrações, sucesso e viradas, alguns resultados dentro do campo chegaram a empolgar. A conquista da Taça São Paulo de Juniores de 2011 a fez até invocar o mantra de seus oponentes mais ferrenhos: “Craque o Flamengo faz em casa”. Era o cenário perfeito para o que viria em seguida, no início de sua segunda temporada. Artífice das negociações com a poderosa Rede Globo, em uma renovação de contrato de direitos de transmissão milionária, saiu às compras, bolsos cheios, atrás de um star system para chamar de seu. Decidida a inovar, importou um elenco estrelar, inaugurando uma nova era no futebol brasileiro, marcada pelo repatriamento dos craques de outrora.

Estampou nas manchetes de todo mundo o título de seu novo folhetim: “O melhor no maior do mundo”. Parecia uma receita infalível. Promessa de novas emoções embaladas por personagens sempre em alta octanagem. No campo técnico, deu certo por um tempo. A conquista do Carioca invicto em 2011 parecia o avant première de um novo período de glórias. Mas, a sina do vermelho e preto estava longe de um final feliz.

Da tumultuada passagem de Vanderlei Luxemburgo –que, sem controle do time em campo, viu-se envolvido até com acusações de associação com bicheiros, corrupção e lavagem de dinheiro (tudo, pasmem, minuciosamente detalhado no... blog do Paulinho ! Mais novelesco impossível !!!!). - à saída bombástica da maior contratação do futebol brasileiro de todos os tempos (não, não estou me referindo ao Tufão), mas a Ronaldinho Gaúcho, tudo aconteceu.

Ou quase. Pois, como em uma boa novela, o melhor está sempre reservado para o final.

Assim, como se não bastassem os micos históricos da parte da delegação rubro-negra nas Olimpíadas de Londres (devidamente testemunhados pela presidente mais pé quente da história desta “nação”), às desastradas tentativas de contratação de meio mundo futebolístico (para, ao final, ressuscitar o velho e já nada bom Adriano, às voltas com os eternos dilemas com seus próprios miolos) a última do papagaio é que a presidente do clube carioca mais em evidência do país, mantém um cabide de empregos no seu gabinete, na Câmara de Vereadores da cidade que será sede das próximas edições dos jogos Olímpicos.

Para quem já “furou” esquema de segurança de presidente americano para entregar-lhe o manto sagrado, que belo the end, hein, Dona Patrícia ?

Luiz Léo

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