domingo, 9 de julho de 2017

Muito aquém do futebol

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Foto: O Globo

Se alguém me perguntasse quem venceu o último clássico dos milhões, disputado em São Januário, numa fria noite de sábado, eu diria, sem pestanejar: o ódio. E de goleada.

O que era para ser apenas mais um jogo, terminou muito mal. Flamengo e Vasco (que, fosse qualquer país sério, teria tido como palco o Maracanã), nunca é um jogo qualquer. Há sempre algo a mais no ar. Envolve uma rivalidade maior do que qualquer competição em si.

E o clássico da vez tinha hora e lugar (sobretudo lugar) para dar errado. Não se trata de apostolar sobre a catástrofe, quando já acontecida. É um simples exercício de lógica.

Com Maracanã inviabilizado pela incompetência pública, São Januário foi reformado para sediar os jogos do Vasco da Gama como mandante. É justo e compreensível que seus dirigentes decidam usar o equipamento para recuperar os investimentos e assegurar boa performance técnica à equipe, que treina e se sente a vontade jogando em seus domínios.

Porém, um clássico é um clássico. E como, dito antes, não é um clássico qualquer. Envolve as torcidas com a maior animosidade por metro quadrado da cidade. Uma cidade já combalida por crises em todos os seus setores, com governantes presos, delinquência nas ruas e situação econômica pré-falimentar (acerca da qual, o Maracanã é uma das muitas e trágicas evidências). Um jogo dentro de uma cidade que vive à sombra de um desastre. E, neste clima, a partida foi marcada para um local, cuja logística é sabidamente preocupante.

Fosse qualquer jogo, este seria um mero detalhe. Mas, aquele envolvia um Vasco da Gama em dificuldades no campeonato nacional, após o retorno de (mais) um rebaixamento. Uma equipe cujos números na classificação não enganam nem os mais fanáticos torcedores. E que só não está em situação pior, por conta dos resultados que tem conseguido dentro de casa.

Do outro lado, o maior rival. Um time em franca ascensão, após um início titubeante. E por trás deste time, uma torcida gigantesca, mordida pelos últimos insucessos, em série, para o principal adversário. O terceiro contra o sexto, se os números da classificação fossem críveis.

A partida em si tornou-se o de menos. As cenas de batalha campal ocuparam todas as atenções de quem estava acompanhando a transmissão –e de quem tomou conhecimento da guerra, na velocidade das redes sociais. Mal soou o apito decretando o final da disputa, as arquibancadas ocupadas por 95% de vascaínos ganharam ares de trincheiras, com os “soldados” da vez atirando suas bombas, rojões e tudo o mais que encontrassem pela frente.

O que causou a deflagração ? Insatisfação com o resultado (o Flamengo venceu por magro e suado 1 x 0) ? Erros da arbitragem (péssima, como sempre e sempre) ? Provocações dos rivais (em infinito menor número e completamente acuados no curral a eles reservado) ?

Nos próximos dias, o noticiário policial irá trazer respostas. Espera-se que a polícia, afinal, consiga fazer o seu papel. Ou não. Para o “tranquilo” presidente vascaíno, a culpa é “deles” (dos outros). Erro de revista da PM, que "deixou entrar" verdadeiro arsenal no estádio. No estilo Eurico, barba mal feita, ranho escorrendo pelo nariz: “a culpa é da política”!

Ah, a política. Pelo menos nessa, o ex-deputado meteu um golaço. Tirou o corpo fora (como sempre), mas jogou a bomba (a derradeira ?), no colo de quem, de fato, merece cada cartão vermelho que lhes couber aplicar. As tensões acumuladas na cidade e no país, não são um mero detalhe. O que se vê na atualidade é de assustar selvagens. Menos aqueles que vestiam a cruz de malta na noite de sábado. Para eles, a Cruzada será sempre na próxima Colina.

E o ódio venceu. Mais uma vez...

LL

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