Lamentavelmente a sua hora vai chegar
Está cada dia mais difícil defender o Zé. E olha que sou da
trupe da resistência. Dos que não envergam fácil com as burras unanimidades das
redes sociais – a propósito, me pergunto o que estaria escrevendo o velho
Nelson, diante da profusão de nonsense
da vida online.
Noves fora as unanimidades, minha premissa é a de sempre: valem mais os
ideais do que a lógica. Romântico, ainda me deixo seduzir por um
clássico aforismo gaveano: “craque a gente faz em casa”. O Zé é cria de lá ! Se
formou dentro das quadras rubro-negras, como treinador de futsal. Evoluiu na
carreira aos poucos, conquistando seu espaço com inteligência e serenidade.
E como qualquer jovem talento, oscila. É natural. Erros
fazem parte do aprendizado, embora a profissão escolhida não permita os
excessos. Existem sempre os 190 milhões de concorrentes para dar pixotada na
escalação alheia, na tática adotada, nas substituições equivocadas.
Ser professor no Brasil não é moleza ! Dentro ou fora de
campo J.
É mais fácil matar um leão de juba grande por dia. E num clube como o Flamengo
a potencia dos desacertos é multiplicada pelo número de estrelas do céu. A
passagem para o inferno vai num pulo.
Desde que substituiu o “sabe-tudo” Murici Ramalho, o
treinador do Flamengo vem entregando bons resultados. Na temporada 2016
classificou um elenco desacreditado para a Libertadores. E, mais importante do
que a classificação, proporcionou uma enorme evolução à equipe, que chegou a
lutar pela conquista do título nacional. Cheirou e não levou. Mas, foi por pouco.
O bom trabalho gerou expectativas para a atual temporada. O
clube deu um ótimo respaldo à turma do gramado, com uma governança equilibrada
e metas administrativas alinhadas a uma projeção otimista de resultados
técnicos dentro do campo. Trabalho planejado desde o início da
temporada, montagem de elenco, contratações aos baldes (algumas de oportunidade,
cujo timing e efetividade são
discutíveis). Tinha tudo para funcionar.
E funcionou ! Pela segunda temporada seguida o Flamengo está
na parte de cima da tabela da principal competição nacional. Foi campeão
estadual. Está na semifinal da Copa do Brasil. Não é pouca coisa. Em números são
47 jogos oficiais, com 27 vitórias, 14 empates e 06 derrotas, com 88 gols marcados
e 39 sofridos. Aproveitamento próximo aos 60%. Melhor do que a maioria dos medalhões
que figuraram na Gávea, nos últimos anos.
Mas, a eliminação na Libertadores ainda assombra os mais
incautos. Mesmo que tenha sido a primeira vez do treinador, entra na sua conta
a frustração por uma sequencia constrangedora de eliminações nas primeiras
fases da competição continental. Desde lá, as perseguições se intensificaram.
As cobranças ganharam contornos de histeria. Da torcida, por funcionar no termômetro
da paixão – que é péssima conselheira. Da crônica, por se considerar mais sabida
que os que calçam as chuteiras e vivem a dura rotina dos gramados. Do conforto
de uma poltrona ou da segurança de um estúdio (e/ou redação) todos tem a
receita fácil do sucesso.
É uma pressão incompreensível e contraprodutiva. Trabalha
contra o próprio patrimônio. Não bastassem os constantes reclames dos
injustiçados, fundadas na estapafúrdia teoria do apito amigo, os próprios
rubro-negros geram uma atmosfera de constrangimento que só atrapalha. Tira o equilíbrio
de quem mais necessita de tranquilidade para desempenhar com competência seu
papel: técnico e jogadores. No climão de fora todo mundo, nem o Vaz se acerta (como se isso fosse possível)...
O jogo contra o Santos é um claro reflexo da atmosfera
pesada que paira sobre a Gávea. Escalação equivocada, atuações abaixo da
crítica e o fantasma que reaparece a cada decisão. O Flamengo involui e isso é
óbvio. Como óbvia também deveria ser a constatação que as pressões excessivas
só atrapalham, contribuindo, mais do que tudo, para os retrocessos.
Não fosse um país que vive o futebol com o ardor que deveria
dedicar à política – muito mais relevante, aliás –, estaríamos seguros que,
apesar das naturais adversidades, a nau está no destino certo. A tripulação é
talentosa e o comandante sabe onde quer – e pode – chegar. A histeria coletiva
acabará promovendo uma lamentável insubordinação a bordo, que levará à degola
daquele que, houvesse paciência e bom senso, poderia se tornar um técnico de
futuro.
Mas, apesar da resistência admirável dos seus atuais mandatários,
tudo indica que o Flamengo retomará a velha sina de desvalorizar a quem formou
e prestigiar os que se dizem rubro-negros de ocasião – de olho numa boa
oportunidade de mercado. Um passo para trás dentro dos gramados, em completo
desalinho com os acertos na administração da entidade. Tomara que, não apenas o
Zé esteja errado de tudo – e de todos – desta vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário