quarta-feira, 2 de agosto de 2017

É o dinheiro, estúpido !

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Quanto vale um jogador de futebol ? Se o boleiro em questão for o Neymar, a resposta é exatos 220 milhões de euros (ou mais, dependendo da idoneidade dos envolvidos na transação). Esta cifra equivaleria mais ou menos o mesmo que o antigo dito popular: “o céu é o limite”. Mas, para os donos dos petrodólares que desembolsaram a cifra, “dinheiro pouco é bobagem”. La pelota que se siga. E dane-se o bom senso (ou o Fair Play financeiro da dona UEFA, se preferirem).

Nada tenho a ver com a vida, as escolhas privadas e muito menos com os destinos futebolísticos do, agora, ex-craque do Barça. Na Real, prefiro o Madrid. E nem o fato de simpatizar pouco com o estilo meio brega, quase sempre forçado, do enjeitado Menino da Vila embota a minha avaliação do seu futebol – que é de gente grande. Só não bato muito é com Santo da cria de Santos. Em termos de idolatria, fico com os grandes do passado, com menos dinheiro no bolso e mais integridade na alma.

Mas, a reflexão aqui tem outros personagens. Afinal, jogador mercenário virou regra. Ou atire a primeira bola quem não gostaria de estar no lugar do camisa onze da vez. O dinheiro é o que verdadeiramente comanda a lógica do consumo esportivo. Paixão é para os trouxas – que, invariavelmente, são os que se fantasiam com os produtos vendidos a preços extorsivos nas lojas oficiais dos clubes, compram os (cada vez mais caros) ingressos dos jogos, assinam os canais e pacotes de transmissão fechados (pagando duas vezes pelo mesmo serviço, capisce?) e outras tantas excentricidades do sport business de ocasião.

Nas lições ensinadas pelo velho Marx, só o Capital é o que importa – dinheiro reproduzindo dinheiro, sem qualquer sentido prático, lastro material ou propósito em si – o que na linha de raciocínio de Oscar Wilde nos levou à dura encruzilhada de “saber o preço de tudo, mas o valor de nada”. Uma tosca razão do “ter” sepultando completamente os sentidos do “ser”. É, aliás, um francês (e não o PSG) quem nos dá o tom destes tempos sombrios, com sua noção de “sociedade do espetáculo”: Guy Débord, cuja crítica à vida de contemplação e consumo passivo das imagens, reproduzidas à exaustão, traduziria aquilo em que nos transformamos, hoje, enquanto sujeitos.

Acomodados, insensíveis, simplesmente acompanhamos a bola rolar e o mundo girar em meio a uma era que Ladislau Dowbor define como a do “capitalismo improdutivo” – em que menos de dez famílias lideradas por homens brancos concentram uma riqueza proporcional a de quase metade dos habitantes do planeta. Era de incomensurável devastação ambiental, extrema corrupção financeira e polarizações ideológicas crescentes. Mas, a bola continua a rodar, porque, afinal, “the show must go on”. A FIFA com seus digníssimos mandatários, asseclas e patrocinadores, que o diga.

E isso nos traz, de volta, ao que interessa. O episódio Neymar começa com um ilustre e endinheirado sheik de turbante, que “invade” o mundo do futebol e conquista Paris. Poderia ser roteiro dos Vikings, mas é uma história das Arábias. Na capital francesa compra um clube e todos os reforços que a conta bancária permite alcançar – e, aqui, devemos lembrar a frase do início: para os petrodólares, “o céu é o limite”. Do mesmo centro da Europa, comanda uma mega operação financeira que termina na aquisição do direito de sediar uma edição de Copa do Mundo no longuínquo, quente e insignificante (futebolisticamente falando) Qatar. Insinuações de suborno à parte, um tremendo mico.

A cereja desse bolo de areias desérticas e escaldantes é o intrépido, ousado e humilde Júnior – vulgo Ney, só para os parças. A nova mudança de ares lhe trará muito mais dinheiro do que as suas futuras gerações serão capazes de gastar. Dinheiro. Sempre o dinheiro. Do primeiro ao último lugar. De Santos para Barcelona. De Barcelona para Paris. Parece pouco para um universo esportivo, em que as transferências ocorrem com a mesma velocidade com que as empresas de material esportivo trocam de uniformes de clubes – a cada meia temporada. Mas, não se deixe iludir pela pouca rotatividade da jovem celebridade do escrete canarinho: NJR estará sempre onde houver o aceno de mais dinheiro que lhe possam pagar. Esta é uma marca que nem os seus gols conseguirão apagar.

Carma espiritual ou puro interesse material ? Egoísmo ? Ingratidão ? Tanto faz, play ! Que se danem os escrúpulos, porque, até para isso, o credo do (neo)liberalismo tem a resposta: é a economia, estúpido ! Esforce-se que serás recompensado. Só os fortes sobrevivem. No amor e na guerra vale tudo. É a livre iniciativa, irmão ! Amém ? Bem, os invejosos irão dizer que o meu texto está carregado de frases feitas, pensamentos retrógrados e pura dor de cotovelo. Mas, vou logo dizendo: se não queres comprar as minhas ideias, não atrapalhes o meu desabafo, tá ? ; )

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