domingo, 18 de novembro de 2012

O que pensam os professores brasileiros


As pessoas que optam pela carreira de professor não são derrotadas. Pelo contrário, são profundamente idealistas e querem mudar o mundo, mudando a vida de seus alunos, mostra pesquisa em VEJA desta semana. Mas persiste um problema: os profissionais sabem que eles não estão aprendendo

Gustavo Ioschpe
O “Diário de Classe” - Isadora Faber, de 13 anos, mostrou as mazelas de sua escola e quase foi processada por professores
O “Diário de Classe” - Isadora Faber, de 13 anos, mostrou as mazelas de sua escola e quase foi processada por professores (Marco Dutra/UOL/Folhapress)
Eis as explicações dos professores para as dificuldades de aprendizagem dos alunos: 94% apontam a “falta de assistência e acompanhamento da família”, 89% citam o “desinteresse e a falta de esforço do aluno” e 84% dizem ser “decorrentes do meio em que o aluno vive”. Nossos alunos, especialmente os pobres, são massacrados por um mar de descrença e descompromisso do sistema que a sociedade financia para educá-los. Só 7% dos professores acreditam que quase todos os seus alunos entrarão na universidade
É impressionante como sabemos pouco sobre os principais atores do nosso sistema educacional, os professores. Claro, se você acredita na maioria das notícias e artigos veiculados sobre eles, já deve ter um quadro perfeito formado na cabeça: os professores são desmotivados porque ganham pouco, precisam trabalhar em muitas escolas para conseguir pagar as contas do fim do mês. O sujeito se torna professor, no Brasil, por falta de opção, já que não consegue entrar em outros cursos superiores. Portanto, já chega à carreira desmotivado, e, ao deparar com o desprezo da sociedade e seus governantes, desiste da profissão e só permanece nela por não ter alternativa. Essa é a versão propalada aos quatro ventos. Mas eu gostaria que você, dileto leitor, considerasse uma hipótese distinta. E para isso não quero usar a minha opinião, mas dar voz aos próprios professores. Os dados que vêm a seguir são extraídos de questionários respondidos por professores da rede pública brasileira, em um caso para compor um “Perfil do Professor Brasileiro” da Unesco, em outro em pesquisa Ibope para a Fundação Victor Civita e, finalmente, na Prova Brasil de 2009 (a última com microdados disponíveis. A íntegra dos três pode ser encontrada em twitter.com/gioschpe).
Comecemos pelo início. Não é verdade que os professores caiam de paraquedas na carreira. O acaso motivou a entrada de só 8% dos mestres, e só 2% foi dar aula por não conseguir outro emprego. Sessenta e três por cento dos docentes têm inclusive outros membros da família na profissão. Perguntados sobre a motivação para exercerem a carreira, 53% dizem que é por “amor à profissão” e outros 14% apontam ser para “contribuir para uma sociedade melhor”. Só 15% citam motivos que podem ser interpretados como oportunistas ou indiferentes à função social da profissão (9% mencionam “realização profissional” e 6%, “salário/benefícios oferecidos”). O professor não tem uma má percepção da sua profissão: 81% concordam que são “muito importantes para a sociedade” e 78% dizem ter orgulho de ser professor(a).
As pessoas que optam pela carreira de professor não são derrotadas. Pelo contrário, são profundamente idealistas. Querem mudar o mundo, mudando a vida de seus alunos. Quase três quartos dos professores (72%) acham que uma das finalidades mais importantes da educação é “formar cidadãos conscientes”. Nove entre dez professores concordam que “o professor deve desenvolver a consciência social e política das novas gerações”. Apenas 45% acreditam que “o professor deve evitar toda forma de militância e compromisso ideológico em sala de aula”.
Esse jovem idealista então vai para a universidade estudar pedagogia ou licenciatura na área que lhe interessa (falo sobre esses cursos em breve). Depois começa a trabalhar.
As condições objetivas de sua carreira são satisfatórias. A ideia de que o professor precisa correr de um lado para o outro, acumulando escolas e horas insanas de trabalho, não resiste à apuração dos fatos. Quase seis em cada dez professores (57%) trabalham em apenas uma escola. Em três ou mais escolas, só 6% do total. Um terço dos professores dá até trinta horas de aula por semana. Vinte e oito por cento lecionam quarenta horas (a carga normal do trabalhador brasileiro) e só um quarto dos professores tem jornada acima de quarenta horas por semana. Dois terços dos professores têm estabilidade no emprego -- é praticamente impossível demiti-los. Felizmente, casos de violência na escola são menos comuns do que a leitura de jornais nos faria crer: 10% dos professores se disseram vítimas de agressão física no último ano. Por tudo isso, a sensação geral dos professores com sua carreira é de satisfação. Quase dois terços (63%) estão mais ou igualmente satisfeitos com a profissão quando entrevistados do que no início de sua carreira. O grau de satisfação médio do professor, de zero a 10, é de 7,9. Só 10% dizem querer abandonar a carreira.
Essa satisfação é curiosa, porque os professores estão falhando na sua tarefa mais simples, que é transmitir conhecimentos e desenvolver as capacidades cognitivas de seus alunos. Não sou eu nem os testes nacionais e internacionais de educação que atestamos isso: são os próprios professores. Só 32% deles concordariam em dizer “meus alunos aprendem de fato”. Dois terços dos professores admitem que só conseguem desenvolver entre 40% e 80% do conteúdo previsto no ano. Só um terço coloca esse patamar acima de 80%. Sintomaticamente, o questionário do MEC que pergunta sobre esse desempenho nem inclui a possibilidade de o professor ter desenvolvido mais conteúdo que o previsto. O que explica esse insucesso?
Um dos principais vilões é identificado pelos próprios professores: seus cursos universitários. Só 34% dos professores acreditam que sua formação está totalmente adequada à realidade do aluno. Nossas faculdades de formação de professores estão mais preocupadas em agradar ao pendor idealista de seus alunos do que em satisfazer suas necessidades técnicas. São cursos profundamente ideo-logizados e teóricos, descolados da realidade de uma sala de aula média brasileira.
Então se dá o momento-chave para entendermos nosso sistema educacional: o professor sai da universidade, passa em um concurso, chega à sala de aula e, na maioria dos casos, fracassa. Seus alunos não aprendem. Esse professor poderia entrar em crise, poderia buscar ajuda, poderia voltar a estudar, poderia ter planos de apoio de sua Secretaria de Educação. Mas nada disso costuma acontecer, porque não há sanção ao professor ineficaz, nem incentivo ao professor obstinado. O professor que fracassa continuará recebendo seu salário, pois tem estabilidade. Seguirá, inclusive, sendo promovido, pois na maioria das redes a promoção se dá por tempo de serviço ou titulação, não por mérito. Esse professor não será nem incomodado: um dos pilares de grande parte de nossas redes é a autonomia da escola, a ideia de que ninguém pode dizer ao professor o que ou como ensinar. Pais e alunos tampouco costumam se manifestar: confundem uma escola limpa, bonita, que oferece merenda e uniforme com educação de qualidade. O professor pode até faltar ao trabalho sem medo de sanções. Estudo recente sobre a rede estadual de São Paulo mostrou que o professor médio falta em dezoito dos 200 dias letivos. É um índice de falta muito superior até mesmo ao dos outros servidores públicos, que já é maior que na iniciativa privada. Depois de uma investigação de meses com o repórter Rafael Foltram junto às secretarias estaduais, descobrimos que há situações muito piores, com faltas entre 11% e 15% dos dias letivos. E isso é certamente uma subestimação, pois a maioria das secretarias não fica sabendo quando um professor se ausenta durante parte de um dia; algumas só são notificadas em faltas de três dias ou mais. O professor deixa de se preocupar em investir em si mesmo: 74% veem TV todos os dias, mas só 12% leem livros de ficção e 17% participam habitualmente de seminários de atualização.
Mesmo nesse sistema tão permissivo e ineficiente, persiste um problema: os professores sabem que seus alunos não estão aprendendo. E é extraordinariamente difícil a qualquer pessoa continuar em uma carreira, indo ao trabalho todos os dias, sabendo-se um fracasso. Muitos profissionais sucumbem à depressão e ao esgotamento. Alguns abandonam a carreira. Mas a maioria resolve essa dissonância cognitiva (eu sou um bom professor, meu aluno não aprende) de duas maneiras: culpando o aluno e redefinindo o “sucesso”. Alfabetizar e ensinar a tabuada, por exemplo, deixam de ser medições válidas de êxito e passam a ser vistos como “reducionismo”. O importante é a libertação do espírito, e isso qualquer um pode definir da maneira que lhe gerar conforto, no recôndito de sua alma. Já a culpabilização do aluno e de sua família é mais ostensiva. Eis as explicações dos professores para as dificuldades de aprendizagem dos alunos: 94% apontam a “falta de assistência e acompanhamento da família”, 89% citam o “desinteresse e a falta de esforço do aluno” e 84% dizem ser “decorrentes do meio em que o aluno vive”. Nossos alunos, especialmente os pobres, são massacrados por um mar de descrença e descompromisso do sistema que a sociedade financia para educá-los. Só 7% dos professores acreditam que quase todos os seus alunos entrarão na universidade.
Esses professores criaram uma leitura de mundo à parte e completa para se blindarem contra o próprio insucesso. Qualquer crítica ou cobrança só pode vir de algum celerado que pretende privatizar a escola ou quer “alienar” o alunado. Pesquisas não são confiáveis, números mentem, estatísticas desumanizam: os professores não precisam de ajuda, muito menos de interferência. Segundo eles, o exercício da docência é algo tão particular, hermético e incompreensível que não pode se sujeitar aos métodos investigativos que analisam todas as outras áreas do conhecimento humano: só quem vive a mesma situação é que pode falar alguma coisa. Na área da saúde, seria ridículo dizer que um pesquisador de laboratório não pode criar um remédio porque nunca atendeu pacientes com aquela doença ou que um médico só poderia realmente tratar do doente se tivesse passado um tempo considerável internado no hospital. Na educação brasileira, o discurso de que os “de fora” não podem se meter é aceito sem hesitação.
É por isso que me parecem disparatadas as iniciativas que querem usar de aumentos orçamentários para “recuperar a dignidade do magistério” ou melhorar a educação dobrando os salários dos profissionais da área. A maioria dos professores não está com a dignidade abalada. Está satisfeita, acomodada. O professor não se tornará um profissional mais exitoso se não tiver uma profunda melhora de preparo, por mais que seu salário seja aumentado. Se compararmos nosso alto gasto em educação com o baixo resultado que o sistema educacional entrega ao país, o surpreendente é que a autoestima dos educadores esteja tão alta. Ao lidar com o “luto” do nosso insucesso educacional, a maioria dos professores ainda está na fase da negação (a culpa é dos alunos e pais) e raiva (contra o mundo neoliberal, a falta de apoio etc.). Esse mecanismo de defesa tem uma utilidade importante: faz com que o professor possa prosseguir em sua carreira, sem sucumbir ao desespero que fatalmente adviria se percebesse a dimensão de seu insucesso. Mas, para o país, cobra um preço alto. Primeiro, porque aliena os professores bons e aqueles que ainda não são bons, mas são comprometidos, batalhadores. É difícil visitar uma escola em que não haja uma tensão surda entre a minoria comprometida e a maioria acomodada, e os competentes não querem trabalhar em um ambiente de inércia. A reação histérica de muitos professores à página no Facebook da estudante Isadora Faber (que chegou a ser acusada criminalmente de calúnia e difamação por uma professora, o que levou a menina de 13 anos a ter de prestar depoimento em delegacia) é demonstrativa da total intransigência desses profissionais com qualquer denúncia que abale ostatus quo. Em segundo lugar, e mais importante, essa resistência impede os próprios professores de procurar as ferramentas que poderiam melhorar o seu desempenho acadêmico. Como sabe qualquer terapeuta, só é possível ajudar quem quer ser ajudado.
A sociedade brasileira não pode retirar os maus professores do cargo, pois a maioria tem estabilidade no emprego. Mas tampouco pode tolerar o seu imobilismo. As mirabolantes e simplistas soluções orçamentárias não resolvem esse problema tão difícil: como fazer que professores dessensibilizados por anos ou décadas de cinismo voltem a ter a esperança e o brilho nos olhos que os fizeram optar por essa linda profissão.

sábado, 13 de outubro de 2012

TV Brasil - Comentário Geral: Poder



Política, mídia e a espiritualidade são temas do programa
O líder espiritual Ravi Shankar fala sobre o poder da menteO líder espiritual Ravi Shankar fala sobre o poder da menteO Comentário Geral mergulha numa das palavras mais contundentes nos dias de hoje:poder! São vários os tipos de poder, existem o econômico, o religioso, além do poder absoluto e até aquele que emana do povo.

No Brasil, existem três esferas de representação de poder na política, o diretor daEscola de Governo/SP,  Xixio Mauricio, vai explicar como é que se dá a articulação de um governo baseada nesses três poderes.
Ainda na política, o pesquisador de pós graduação da Puc-RioRicardo Ismael, vai analisar a propaganda da campanha de Barack Obama"Yes, We Can" – “Sim, nós podemos”, e os artefatos publicitários que conseguiu eleger, pela primeira vez, um presidente negro nos EUA.

Chamada de Quarto Poder, a mídia por muitas vezes é tida como maquiavélica, que maquia, que cria fatos e perpetua verdades nem sempre comprovados.
Mas será que este Quarto Poder não estaria ameaçado pelas ações públicas nas redes sociais? Será que elas já assumiram a mesma credibilidade das mídias mais tradicionais? Quem responde a essas perguntas é o professor de comunicação de Mídias Globais da Puc RioLuiz Léo.

O poder é pauta também em muitas obras de Cinema, mas o seu maior ícone está na trilogia doPoderoso Chefão! José Wilker, que já viveu muitos poderosos chefões na televisão brasileira e é um cinéfilo convicto, é quem vai falar sobre o assunto.

Outro tema é o Poder da Mente. O líder espiritual Ravi Shankar, que esteve no mês passado noBrasil, recebeu a visita do Comentário Geral, e falou sobre a importância da meditação. Tabus também estão presentes nas relações de poder... A impotência ainda é assunto delicado para muita gente, e quem fala abertamente sobre este tema que assusta muitos homens é o escritorFlávio Braga.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Seminário Roda de Futebol: Copa do Mundo e Sociedade



Da esq. para dir.: Bruno Cortes (Repórter do canal Sportv), prof. Luiz Francisco Ferreira Leo (COM), prof. Renato Callado Ferreira (CEF), Thiago Bokel (Jornalista do Lance!) e Evaristo de Macedo (ex-treinador e jogador de futebol) 

http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/acervo/eg0156/006

Semana do Esporte na Comunicação


A primeira Semana do Esporte na Comunicação começa nesta segunda

A Semana do Esporte na Comunicação, uma parceria do Departamento de Comunicação Social com o Centro Acadênico Social, será realizada de 24 a 27 na PUC-Rio. O objetivo é debater questões relacionadas ao jornalismo e marketing esportivo. Para isso, foram convidados especialistas que irão discutir temas como a espetacularização do esporte e o uso das novas mídias no jornalismo e na publicidade. Os professores do Departamento de Comunicação Social farão a mediação dos debates que ocorrerão na sala 102-K na ala Kennedy.

Confira a programação:

De 24/09 a 27/09

Exposição de fotografias e portfólios relacionados ao tema “Esporte” no CACOS (Casa V da Vila dos Diretórios).



Dia 24


'Pontapé Inicial: A copa do mundo de 2014' - seminário organizado pela Vice-Reitoria Comunitária no Auditório do RDC.

Convidados:

· Luiz Léo (Professor de Marketing Esportivo da PUC-RIO)

· Evaristo de Macedo (Ex-jogador de futebol)

· Thiago Bokel, (Lance!)

· Bruno Cortes (SporTV)



Dia 25

Dia do Skate (parceria com a Red Bull)

· 11h: Pistas disponíveis para os skatistas

· 18h: Exibição do filme “Dirty Money”



Dia 26

9h: A espetacularização do esporte: show x informação.

É possível conciliar o show que o esporte proporciona com a informação que o jornalista deve passar ao ouvinte, telespectador ou leitor? Como atuar em grandes eventos como a Olimpíada de 2016 e a Copa de 2014? Como agir, dentro de um espaço de grandes competições, com a necessidade da audiência? Isso prejudica ou inviabiliza o critério esportivo e o conteúdo transmitido?

Convidados para o debate:

· Sidney Garambone (SporTV)

· Maurício Torres ( Record)

· Jorge Luiz Rodrigues (O Globo)



Mediador: Alexandre Carauta



11h: Novas oportunidades proporcionadas pela Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016

Como se dá a qualificação do Marketing esportivo para um evento de grande porte? Como promover as ligas, times e atletas individualmente? Como transformar o atleta na marca que irá representar o país?

Convidados para o debate:

· Jackson Vasconcelos (Diretor de marketing do Fluminense)

· Luiz Paulo Moura (Unilever)

· Fabiano Farah (Marketing do jogador Ronaldo)



Mediador: Luiz Léo



13h: Como as novas mídias mudam a forma de fazer jornalismo

Como lidar com a crossmedia e a transmedia? O que muda na forma de fazer ao vivo? Como lidar com a velocidade de transmissão e alcance sem perder a consistência da informação?

Convidados para o debate:

· Eduardo Tironi (Lance! e ESPN)

· Paulo Júlio Clement (FoxSports)

· Gilmar Ferreira (Rádio Globo)



Mediador: Creso Soares



15h: Internet e as novas mídias para publicidade

O que muda com a adoção de novos formatos e recursos dirigidos à novas mídias? A publicidade se mostra mais efetiva nas redes sociais e tendem à exclusão de antigos meios? Como promover a interação dos meios?

Convidados para o debate:

· Thiago Alves (Diretor de arte da DPZ)

· Raphael Sobral (Esporte Interativo)

· Maurício Portella (Mídias sociais do Esporte Interativo)



http://oglobo.globo.com/rio/bairros/posts/2012/09/23/a-primeira-semana-do-esporte-na-comunicacao-comeca-nesta-segunda-466348.asp

terça-feira, 11 de setembro de 2012

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A noveleira da Gávea


Para o brasileiro, novela é quase religião. Por mais recorrentes que sejam as tramas, difícil resistir às cenas dos próximos capítulos, invariavelmente recheadas de mistérios, suspenses e situações mirabolantes - daquelas que só as mentes mais criativas são capazes de elaborar. Pois não é que a presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, está se revelando uma noveleira de carteirinha ? Não contente com a programação das redes, decidiu inovar, gerando as suas próprias histórias. Misto de criador e criatura, a mandatária rubro-negra se vê as voltas com uma espécie de “Vale a pena ver de novo” para lá de previsível, incompreensível e, porque não, deplorável.

As primeiras cenas chegaram a empolgar. Primeira e única mulher a comandar o clube mais querido do Brasil, ex-atleta vitoriosa, foi eleita com pompa e circunstância, derrotando a chapa do então favorito candidato da situação -que conduziria o Flamengo à conquista do seu sexto campeonato nacional, dias mais tarde. Assumiu em meio às desconfianças de um ambiente hostil e preconceituoso (que não poucas vezes levaram-na às lágrimas). Confiante, tal qual um Odorico de saias, comprometeu-se em sua posse a uma governança vitoriosa, dentro e fora dos muros da Gávea. Cercou-se, para tanto, de um elenco em que não faltaram celebridades (Zico, a estrela máxima das melhores tramas rubro negras, dentre elas).

Como toda boa história, a sua foi alimentada por boas doses de polêmicas e conflitos junto a uma platéia de mais de 30 milhões de tele-torcedores. Na primeira temporada a frente da série “C.R.F”, no melhor estilo “Janete Clair” dissimulou, despistou e criou mistérios. Fez surgir personagens (alguns secundários e para lá de obscuros), quase sempre ocultando mais do que relevando suas verdadeiras intenções. Manteve-se impassível mesmo nos momentos mais agudos de seus suspenses particulares. Assistiu a realidade adentrar a ficção, sem controle sobre seu casting, rotineiramente envolvido em boletins policiais (ora expostos por brigas passionais, ora fazendo apologias a traficantes e até mesmo investigados por assassinato -com tudo isso atravessando o seu enredo).Sem receio de arriscar novas fórmulas para contar as mesmas histórias, jogou luzes em meros figurantes, que do alto de suas capitanias hereditárias eliminaram protagonistas de tantas conquistas e glórias com o manto sagrado.

Mas, como tramas também se fazem com celebrações, sucesso e viradas, alguns resultados dentro do campo chegaram a empolgar. A conquista da Taça São Paulo de Juniores de 2011 a fez até invocar o mantra de seus oponentes mais ferrenhos: “Craque o Flamengo faz em casa”. Era o cenário perfeito para o que viria em seguida, no início de sua segunda temporada. Artífice das negociações com a poderosa Rede Globo, em uma renovação de contrato de direitos de transmissão milionária, saiu às compras, bolsos cheios, atrás de um star system para chamar de seu. Decidida a inovar, importou um elenco estrelar, inaugurando uma nova era no futebol brasileiro, marcada pelo repatriamento dos craques de outrora.

Estampou nas manchetes de todo mundo o título de seu novo folhetim: “O melhor no maior do mundo”. Parecia uma receita infalível. Promessa de novas emoções embaladas por personagens sempre em alta octanagem. No campo técnico, deu certo por um tempo. A conquista do Carioca invicto em 2011 parecia o avant première de um novo período de glórias. Mas, a sina do vermelho e preto estava longe de um final feliz.

Da tumultuada passagem de Vanderlei Luxemburgo –que, sem controle do time em campo, viu-se envolvido até com acusações de associação com bicheiros, corrupção e lavagem de dinheiro (tudo, pasmem, minuciosamente detalhado no... blog do Paulinho ! Mais novelesco impossível !!!!). - à saída bombástica da maior contratação do futebol brasileiro de todos os tempos (não, não estou me referindo ao Tufão), mas a Ronaldinho Gaúcho, tudo aconteceu.

Ou quase. Pois, como em uma boa novela, o melhor está sempre reservado para o final.

Assim, como se não bastassem os micos históricos da parte da delegação rubro-negra nas Olimpíadas de Londres (devidamente testemunhados pela presidente mais pé quente da história desta “nação”), às desastradas tentativas de contratação de meio mundo futebolístico (para, ao final, ressuscitar o velho e já nada bom Adriano, às voltas com os eternos dilemas com seus próprios miolos) a última do papagaio é que a presidente do clube carioca mais em evidência do país, mantém um cabide de empregos no seu gabinete, na Câmara de Vereadores da cidade que será sede das próximas edições dos jogos Olímpicos.

Para quem já “furou” esquema de segurança de presidente americano para entregar-lhe o manto sagrado, que belo the end, hein, Dona Patrícia ?

Luiz Léo

quinta-feira, 31 de maio de 2012

E deu o óbvio: foi-se o jogador, não ficou nem o pop star...

A ruptura de Ronaldinho com o Flamengo, apesar de bombástica, só parece ter surpreendido os dirigentes do clube da Gávea. Torcedores e crônica esportiva há muito intuíam um desfecho traumático para a parceria. Afinal, a opção do jogador por uma vida completamente avessa às exigências do esporte de alto nível era mais do que notória. Desde a sua apresentação, como grande contratação do futebol brasileiro para a temporada de 2011, o gaúcho sabia que tinha dois caminhos a sua frente: recuperar o prestígio perdido na Europa, defendendo o time de maior torcida do Brasil, ou entregar-se aos prazeres efêmeros de uma cidade que transpira boemia, desempenhando mais o papel de uma celebridade.

Entre o craque e o pop star, Ronaldinho nunca deu margem à dúvidas: abraçou com volúpia as tentações de um Rio sempre em temperatura máxima. Desfilou pelos points da cidade com a desenvoltura de um astro do showbizz -sem jamais lembrar o virtuose dos gramados de outrora. Tratava-se de operação de alto risco para todas as partes envolvidas no empreendimento. E ao longo do caminho foram sendo deixadas evidências de que não poderia resultar boa coisa: o rompimento com a Traffic, intermediária da contratação e garantidora financeira da operação (afastada poucos meses depois do processo, por misteriosos desacordos comerciais). A irresponsável incorporação, por parte do clube, de um compromisso econômico obviamente além de sua capacidade financeira. E, finalmente, mas não por último: o desdém de um jogador que não era nem sombra do talento que fora no passado –e, ainda por cima, insensível as ações mercadológicas, envolvendo sua figura esportiva (possivelmente o único ativo de valor de um clube em permanente crise de identidade).

O encerramento, pelas vias judiciais, do pacto laboral entre o profissional e a entidade empregadora, não é um caminho novo. A discussão só está no seu início e certamente ainda trará muitas reviravoltas. Mas, a mácula na imagem dos interessados já é irreversível. Para Ronaldinho, recuperar a condição técnica perdida parece improvável. E, no que diz respeito ao seu status como ídolo, as perspectivas em gramados brasileiros não soam nada animadoras: descartado da Seleção Brasileira, questionado dentro e fora das quatro linhas, perdeu parte do seu encanto. Quanto ao Flamengo, o cenário é ainda mais devastador: incapaz de gerar um time competitivo, a despeito do alto investimento, convive com sérios problemas de gestão em todos os setores do clube: do financeiro ao marketing, passando pelo patrimonial, dentre outros.

No balanço que já se pode fazer da turbulenta passagem de Ronaldinho pela Gávea, o campeonato carioca de 2011 somado aos quase trinta gols anotados em pouco mais de 70 partidas com a camisa vermelho e preta não são um saldo de que se possam orgulhar as partes. O jogador saiu alegando atraso no pagamento dos seus vencimentos –embora, em termos futebolísticos, tenha ficado devendo, e muito. O clube, sem negar a dívida, abusa da demagogia e inoperância, adiando uma solução que é cada vez mais incerta: em quase dezoito meses, não conseguiu capitalizar uma única parceria comercial a altura dos investimentos realizados –e da própria marca Flamengo e de seus quase 40 milhões de torcedores.

Em um paralelo com o passado e o presente, Corinthians e Santos têm muito a ensinar aos mandatários rubro-negros. O time da capital paulista fez do fenômeno Ronaldo a alavanca de um crescimento impressionante, traduzido em contratos milionários, construção de um estádio próprio, títulos e no aumento expressivo de sua torcida pelo Brasil afora. No clube da baixada santista, a onda Neymar continua dando mostras de sua vitalidade, alimentada por uma fórmula empresarial que combina seriedade com ousadia: a estrela do peixe brilha sem parar, nos gramados e nas vitrines comerciais, mesclando conquistas nos campos esportivos e econômico, sem perder a originalidade.

O Flamengo bancou uma aposta muito alta. Alavancou cacife para os primeiros movimentos no tabuleiro dos negócios do esporte, mas perdeu-se completamente pela ausência de um projeto de longo prazo, com critérios de controle e objetivos programáticos mais definidos. Entre as exigências do profissionalismo e as frivolidades do jogo político, sucumbiu a este último. Sobretudo, elegeu dirigentes de competência duvidosa para o comando dos seus interesses mais agudos. Valendo-se de velhos quadros de uma estrutura viciada e improdutiva, o clube se mantém atrelado aos grilhões de um passado amadorístico e irresponsável. No somatório de desacertos, legitimou, ainda, uma tradição histórica, que atravessa (e inutiliza) gerações de atletas flamenguistas: prostrou-se diante das extravagâncias, exigências descabidas e acobertamento de problemas que são incompatíveis com a rotina de um atleta profissional –neste caso, a maior estrela e principal referência da companhia.

No mercado do esporte de alto rendimento não mais há lugar para os ingênuos –e muito menos para os improvisos. Os bastidores do seu espetáculo alimentam uma lógica extremamente competitiva e, por vezes, perversa. Em meio a um tênue equilíbrio dinâmico, onde a disputa leva a cooperação interesseira entre seus players, qualquer vantagem obtida é ouro. Lamentavelmente, para a grande massa de aficionados, que assiste aflita aos descaminhos percorridos pelo proclamado em versos “clube mais querido do Brasil”, não parece ser desta vez que o Flamengo saberá aproveitar a oportunidade de transformar suas forças em oportunidades para se reinventar como grande instituição esportiva. Afinal, Adriano vem ai... ou melhor, pela terceira ou quarta vez, o Imperador voltará. A pergunta que fica é: para quê ?

Luiz Léo é consultor de negócios no esporte e professor de Marketing Esportivo (PUC-Rio)

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Publicado na página de Opinião de O Globo

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A fartura de dinheiro no futebol pode acabar ?



A divulgação do ranking de clubes de futebol mais valiosos do planeta, relativos à temporada 2010-2011, traz à tona uma urgente questão: como conciliar tamanha fartura em um cenário de crescentes incertezas sobre o futuro da economia mundial ?


Os números revelados pela consultoria financeira inglesa Delloite, no seu relatório anual, Delloite Football Money League 2012, apontam o Real Madrid e o Barcelona na ponta da tabela, com faturamento na ordem de 500 milhões de euros. Logo abaixo deles, clubes ingleses, alemães e italianos figuram entre os dez mais. Nenhum brasileiro aparece ranqueado.


A análise considera apenas as três fontes clássicas de receitas que abastecem o esporte contemporâneo: os direitos de transmissão, a bilheteria e os acordos comerciais. E exclui os valores utilizados em transferências de atletas, impostos e outras atividades extra-futebol, como as transações de capital. Contabiliza, portanto, apenas o básico.


Somadas, as receitas dos trinta maiores clubes de futebol do mundo alcançam a impressionante cifra de 5,3 bilhões de euros. Uma montanha de dinheiro nada desprezível, superior ao PIB de muitos Estados.


No Brasil, o Corinthians puxa a fila dos endinheirados. No seu mais recente Relatório de Sustentabilidade, correspondente à temporada de 2011, informa que teve receitas de R$ 290,5 milhões (ou 132 milhões de euros ao câmbio atual). Descontadas as receitas com transferências de atletas, o valor cai para R$ 230,8 milhões (104 milhões de euros).


Tais números colocariam o clube paulista na lista dos 30 maiores geradores de receita do futebol internacional. E isso tem a ver com uma mudança no modelo de captação de recursos, que fez com que o clube tivesse um espantoso crescimento, em relação ao ano anterior.


Na contramão da Europa, que vê secar a circulação de dinheiro em função da grave crise econômica, o futebol brasileiro fez animadores progressos nos últimos anos. Com um aumento global das fontes de financiamento do esporte, notadamente os direitos de transmissão, não será surpresa que outros clubes brazucas apareçam bem posicionados, em um futuro próximo, nas várias modalidades de rankings financeiros do esporte, que existem pelo mundo afora.


Entretanto, o problema lá como cá, é a forma como são gastos os recursos apurados. Segundo a UEFA, nos relatórios fiscais apresentados por 650 clubes europeus, mais da metade deles (56%) acumularam prejuízos no ano fiscal de 2010, quando as dívidas alcançaram extratosféricos 8,4 bilhões de euros. Real Madrid e Barcelona, os que mais faturam, também não medem seu apetite na hora de gastar: em seus recentes balanços financeiros, registram valores negativos superiores a 400 milhões de euros, cada um. Coincidência ou não, o Barcelona, inclusive, voltou a cobrar ingressos em seus treinos, para não sócios.


Tal quadro levou a UEFA a lançar um plano de contingência para os clubes europeus (o Financial Fair Play), ameaçando de exclusão das competições promovidas pela entidade, a partir de 2013/2014 aqueles que não conseguirem controlar seu nível de endividamento.


No Brasil, o Corinthians repete a mesma fórmula: deve próximo a R$ 180 milhões (80 milhões de euros). E nem é dos piores. Em reportagem de abril de 2011, o jornal O Estado de São Paulo elaborou um ranking dos 20 clubes que mais acumulavam dívidas no Brasil: juntos, então, somavam a exorbitante quantia de R$ 3,5 bilhões negativos (com base nos seus balanços de 2010). O Atlético Mineiro liderava a lista, com inacreditáveis: R$ 527 milhões !


No ritmo do descompasso entre o que faturam e o que gastam, os clubes de futebol tornaram-se uma aberração em termos administrativos. O modelo de gestão europeu, outrora um parâmetro de eficiência e seriedade, há muito deixou de ser referência. Seduzidos pela oferta de crédito fácil que varreu o planeta na última década, dirigentes esportivos do velho continente enveredaram pelo mesmo caminho de erros dos seus pares tupiniquins: investimentos acima da capacidade de suas receitas garantidas.


A diferença, em termos de infra-estrutura, que os clubes da Europa já alcançaram há décadas –e que os clubes brasileiros ainda ensaiam conquistar- desaparece, principalmente, na sandice desenfrada dos mega-salários com que são remunerados os seus astros. Mesmo com a larga experiência acumulada na condução de empreendimentos com estádios próprios, torcidas fiéis e investidores conscientes do potencial de retorno oferecido pelo esporte, o futebol europeu rompeu o limiar do bom senso nos gastos com a manutenção de suas equipes.


A gravidade do quadro já seria alarmante por si só, não fosse a rápida deterioração da economia européia, para agravá-la ainda mais. Algumas dezenas de clubes tradicionais estão com a sua existência seriamente ameaçada, diante das dificuldades de contratação de novos empréstimos, para abater antigas dívidas que rolam sem cessar, de ano para ano.  


Os poucos que ainda conseguem registrar lucros, já não o fazem em quantidade suficiente para equacionar seus passivos pendentes. O poderoso Manchester United conseguiu reverter uma tendência de déficits regulares, voltando a apresentar um lucro de 30 milhões de libras, no ano fiscal de 2010-2011. Com isso, reduziu sua gigantesca dívida em quase 20%, para próximo de 450 milhões de libras, adiando os planos de ofertas de ações públicas do time.  


A caminho de uma nova edição da Copa do Mundo, a ser realizada em terras brasileiras, abre-se uma bela oportunidade para que nossos gestores esportivos apontem alternativas de sustentabilidade para o futebol mundial. Não haveria melhor vitrine para a nossa emergente economia, do que ensinar ao mundo, novamente, mas agora, fora de campo, como se faz futebol de forma séria e responsável, para além dos gramados.


Mas, para isso é preciso iniciativa, ousadia e compromisso de longo prazo. Caso contrário, os dias do futebol multibilionário estão contados.



Luiz Léo
Consultor de esportes e professor de marketing esportivo da PUC-Rio

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A loucura dos supersalários do futebol brasileiro


A rescisão da parceira Flamengo-Traffic, formada para repatriar Ronaldinho Gaúcho, evidencia um importante desafio para o futuro do futebol brasileiro. Afinal, como pagar a conta dos supersalários com que vêm sendo agraciados os jogadores de ponta do Brasil ?

O Flamengo declara que assumirá o compromisso, de forma independente, com Gaúcho. Não há dúvidas que, potencial de receitas tem de sobra para isso. O problema é transformar este potencial em realidade. Desde a chegada de Ronaldinho, o clube enfrenta severas dificuldades em captar recursos, a despeito da enorme atração exercida por sua marca e demais ativos.

E o problema não se restringe ao clube da Gávea. Corinthians, Santos, Fluminense e Internacional, apenas para ficarmos nos casos mais conhecidos, abriram seus cofres para remunerar seus astros com salários que são cada vez mais raros na Europa.

Por um lado, a crise no velho continente, em rota oposta à bonança da economia verde-amarela explica parte do cenário. Mas, de outro, o desequilíbrio entre receitas e despesas e a falta de um planejamento eficaz dos clubes brasileiros lançam sérias dúvidas quanto a capacidade de sobrevivência do atual modelo de remuneração.

As diferentes propostas que cada clube abraçou para viabilizar os salários milionários, não são um indicativo confiável na viabilidade do conjunto. Os mega salários do topo da pirâmide pressionam aumentos nos níveis inferiores, inflacionando o mercado como um todo. Não se pode descartar a existência de uma bolha, cujas conseqüências são difíceis de prever.

É certo que as condições internas da economia brasileira, bem como a proximidade dos grandes eventos (Copa do Mundo e Olimpíadas) favoreceram uma mudança de patamar na captação de recursos para as principais entidades esportivas brasileiras. Notadamente os clubes de futebol despertaram para este novo momento, mobilizando-se, sobretudo, em torno de uma rediscussão de sua principal fonte de receitas: a TV.

Pressionadas, as emissoras responderam com ofertas mais robustas e, em linhas gerais, pelo menos duplicaram o faturamento dos clubes, neste quesito. Os ganhos com os direitos de transmissão não vieram sozinhos, levando à potencialização de outra importante categoria de receitas: os ativos comerciais, em particular os acordos de patrocínio.

Na prática, os clubes passaram a dispor de mais dinheiro. Em um primeiro momento, o mercado respondeu de forma positiva, endossando pacotes majorados de cotas (de anúncios) durante as transmissões esportivas. E, além deles, abraçou projetos de patrocínio, igualmente inflacionados, envolvendo as propriedades esportivas dos clubes –desde uniformes até placas de campo. Uma parcela significativa destas entradas responde pelo budget salarial dos astros.

O Santos é um bom exemplo, com seu projeto Neymar. A jóia da vila, sozinho, embolsa ganhos próximos a R$ 1,5 milhões mensais. O mercado tem sucumbido ao talento e carisma inegável do craque santista. E não parece haver dúvidas que o alto investimento dá resultados: já são dez os acordos comerciais em torno de Neymar –tendo o Santos aberto mão de parte significativa destas receitas, para mantê-las atraentes. Os ganhos do clube vem do reforço de sua imagem institucional, aumento de freqüência do público ao estádio e fortalecimento de suas demais fontes de receitas: venda de produtos, patrocínio de camisa, licenciamento, etc.

Flamengo e Corinthians, no rastro de suas imensas torcidas, proporcionam salários igualmente surpreendentes para seus astros: Ronaldinho, com seus R$ 350 mil mensais reforçados por R$ 900 mil mensais de sua, agora, ex-parceira Traffic; e Adriano, na faixa de R$ 400 mil/mês, em meio a infindáveis contusões, confusões e sobrepeso, que mal o deixam atuar. O problema, nestes casos, é que o investimento é incompatível com o retorno alcançado. Adriano, no seu retorno ao Flamengo vendeu mais de 200 mil camisas, em pouco mais de uma semana. Ronaldo Nazário alcançou números ainda mais fenomenais no clube paulista.

Hoje, nomes e clubes trocados, o fiasco é proporcional as passagens apagadas -comercialmente falando-, das estrelas por seus respectivos clubes. Menos mal para o Corinthians, com seus múltiplos acordos de patrocínio. O Flamengo, nem isso.

Situação ainda mais estranha é a do Fluminense: não apenas um, mas vários mega-salários são desembolsados todos os meses, pela eterna patrocinadora das Laranjeiras, a Unimed. Com folha salarial próxima aos R$ 5 milhões mensais, multiplicam-se as cifras milionárias gastas com a remuneração dos astros da equipe: do treinador ao artilheiro, todos na casa dos R$ 700 mil mensais. Difícil é desvendar o retorno de tamanho investimento para o associado ao plano de saúde –um dos mais reclamados nos órgãos de defesa do consumidor de todo o país.

Por último, but not least, o Internacional de Porto Alegre decidiu entrar para o clube dos bons pagadores de salários. Reforçou o caixa de sua estrela maior, o argentino D´Alessando, agora com ganhos próximos aos R$ 800 mil mensais. Quem sabe uma demonstração de força, ante o meio milhão de reais mensais, que o Grêmio passou a desembolsar pelo seu gladiador, Kleber? Ou, talvez, uma resposta mais do que ousada dos pampas à fartura do sudeste.

No ritmo de tanta generosidade, as dificuldades de honrar com os compromissos assumidos é inversamente proporcional ao apetite contratador por novos beneficiários da roda da fortuna. Se falta profissionalismo, seriedade, competência e responsabilidade, sobra euforia. Que o diga a última cartada na rivalidade doméstica do Fla x Flu, extrapolando os gramados e fazendo russos e árabes saírem rindo à toa. E há promessas de que vem mais por aí...

Luiz Léo
Consultor de esportes e professor de marketing esportivo da PUC-Rio